Críticas dos leitores
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As Bestas
4 estrelas
José Miguel Costa
"As Bestas", coprodução franco-espanhola dirigida pelo cineasta madrileno Rodrigo Sorogoyen, é um apelativo thriller rural (de ritmo lento) que mistura (com muita eficácia) alguns ingredientes dos géneros policial, terror psicológico e drama social. Mantendo uma atmosfera de constante tensão (sem "grandes picos", é certo!) aborda a temática da xenofobia direccionada contra os imigrantes europeus de "luxo", por estes possuírem um status social/económico superior aos nativos dos locais onde optam por "assentar arraial". A acção decorre numa pequena aldeia do interior da Galiza, cujos nada hospitaleiros habitantes "cerram fileiras" contra um pacato/passivo casal francês (Denis Ménochet e Marina Foïs) que decidiu abandonar o seu estilo de vida urbano para aí estabelecer-se e dar inicio a um pequeno projeto ecológico, sem fins lucrativos, que visa reabilitar algumas casas abandonadas da zona (compradas pelos próprios para o efeito) com o objectivo de atrair novas gerações para uma vivência autossustentável baseada na agricultura. No entanto, apesar de não terem sido recebidos de braços abertos, o verniz acaba por estalar em definitivo, passando estes a ser vítimas de actos bullying de intensidade crescente, quando uma empresa de energia eólica decide comprar grandes extensões de terreno na região (o que alegadamente implicaria um encaixe financeiro substancial para a generalidade dos residentes) e os forasteiros optam por não vender aquele que lhes pertence (o que inviabilizará a implantação do futuro empreendimento). Dê-se a devida ênfase ao óptimo elenco de actores (principais e secundários), capazes de dar corpo e envolvimento dramático a uma história banal.
Quem Matou Laura Paula
Quem matou Laura Paula
Sónia Exposto
Ao preencher esta crítica atribui 3 estrelas por engano e o sistema não me permite corrigir, a minha vontade era atribuir zero. Não me lembro de ver um filme tão mau na minha vida, quer em relação aos atores, quase todos péssimos, mas sobretudo em relação á história que é apenas ridícula. Num país que tem tantas dificuldades em financiar projetos de qualidade não entendo como se arranja dinheiro para fazer um filme tão mau. Saí da sala, gastei mal o meu dinheiro infelizmente, agora que ir ao cinema é tão caro e fiz um esforço do qual me arrependo.
Regresso a Seul
4 estrelas
José Miguel Costa
O filme "Regresso a Seul", do cineasta franco-cambodjano Davy Chou, é um delicado e, simultaneamente, frenético melodrama (de cariz marcadamente observacional) sobre reencontros familiares, cuja principal força motriz advém da performance da magnética protagonista, a actriz não-profissional Park Ji-Min. No centro da acção (algo inconstante em termos de ritmo) encontramos uma jovem francesa de ascendência coreana (entregue para adopção internacional pelos progenitores, aquando do seu nascimento - prática comum num determinado período histórico), que retorna ao país de origem por mero acaso (devido a falha num voo que tinha como destino Tóquio, para onde seguia com um intuito turístico). Deste modo, independentemente desta espelhar uma postura de ocidentalizada bad girl emancipada e "bem resolvida", vê-se invadida por um turbilhão de emoções contraditórias, quando confrontada com o completo desenraizamento e desconhecimento da cultura que está inscrita nos seus genes. Motivo pelo qual o seu manifesto desinteresse inicial em conhecer os pais biológicos (por puro ressentimento), durante as duas semanas de estadia naquele território, foi-se dissipando, dando por si inesperadamente numa busca activa pelos mesmos (alegadamente por mera curiosidade, já que não pretendia dar continuidade a qualquer futuro relacionamento). Todavia, esta acabará por ser a primeira de várias curtas viagens que trarão de volta à Coreia do Sul a intensa, provocadora e desconcertante/imprevisivel jovem, pelo que acampanharemos a evolução do seu perfil psicológico e o estabelecimento de (ténues) relações interpessoais e familiares, uma vez que a narrativa possui múltiplos saltos temporais. Esta segmentação da obra, apesar de compreensível se atendermos à mensagem que o cineasta pretende transmitir ao espectador, acaba por retirar alguma "integridade"/coesão ao todo, bem como diminuir a carga emocional (possivelmente, propositalmente - até porque, felizmente, a lamechice barata e a tentação de uma resolução "feel god" são excluídas).
65
Perda de tempo
Nelson
Não se entende o que é um ator como Adam Driver anda aqui a fazer. O filme não tem pés nem cabeça, o argumento tem mais buracos que um queijo suíço, a realização é de uma mediocridade confrangedora. Hora e meia a encher chouriços.
A Colina Onde as Leoas Rugem
2 estrelas
José Miguel Costa
"A Colina Onde as Leoas Rugem", primeira longa-metragem da jovem cineasta kosovar Luana Bajrami (22 anos), é um coming-of-age que segue a rotina de ociosidade de 3 raparigas de uma pequena aldeia sita algures no Kosovo, sem grandes perspectivas de futuro devido às contingências do pais, que aguardam ansiosamente a saída da listagem de ingresso à faculdade (única via que visionam possível para se tornarem independentes numa conservadora e misógina sociedade patriarcal que define à priori os papéis tipicamente femininos que lhes estão destinados). O filme, apesar de captar com graciosidade a essência juvenil e a lânguida atmosfera rural do local onde decorre a acção (para além de aflorar naturalmente uma temática tabu num território muçulmano - homossexualidade feminina), não deixa de ser algo simplista e primário ao nível do enredo, já os eventos (abruptos) ocorrem sem grande nexo (por ex, o trio após tomar conhecimento do resultado da candidatura à universidade decide "do nada" formar um gang e no imediato, como num passe de magia, umas miúdas sem qualquer experiência criminal transformam-se em ladras profissionais que vivem na impunidade).
Great Yarmouth: Provisional Figures
Que diacho!
Wanderdey
Porque foi que ainda fiquei lá dentro quase 50 minutos?
Oslo, 31 de Agosto
Desgaste
Rodrigo Graça
Num mundo de filmes cheios de barulho e coisas a acontecer, Trier consegue exprimir o silêncio de alguém que surge morto por dentro desde o início do filme. É muito difícil colocar em vídeo um vazio de sentimentos e emoções tão grande, só quem esteve naquele lugar sabe o quão bem o fez Joaquim Trier.
Johnny Coração de Vidro
Johnny Coração de Vidro
Fernando Oliveira
Um melodrama excessivo como todos os melodramas devem ser, capaz de comover até àqueles que tenham um coração empedernido. “Johnny coração de vidro” é um dos filmes que a The Stone ant the Plot fez estrear em Portugal o ano passado integrado numa segunda leva dedicada aos Mestres Japoneses Desconhecidos; foi realizado por Koreyoshi Kurahara em 1962 e é um filme maravilhoso. É contado num Japão ainda longe da modernidade, mas com personagens já longe dos traumas da guerra. Gente que vive na miséria material e na miséria moral. Mifune é uma adolescente que vive com a mãe e os irmãos, sobrevivem da recolha do sargaço. A mãe vende-a a um homem, a prostituição é o destino. Foge num comboio (e a importância que os comboios têm neste, e noutros filmes japoneses da época). Mifune tem um toque de loucura, e uma memória que lhe dá esperança, mas que talvez seja a razão dessa loucura: na praia conheceu um homem, um poeta, que lhe ensinou uma canção sobre um amor que a virá resgatar, Johnny será o nome desse homem; no dia seguinte, o poeta entra no mar até se afogar. Na cidade, Mifune é “salva” por Joe, fascinado por corridas de ciclismo. Mifune aprende a ser feliz e Joe, mesmo sem o saber, apaixona-se por ela. Joe precisa de dinheiro, Mifune volta a ser vendida, e a quem a “salva” a seguir é o homem que a comprou à mãe. Mas este homem também tem um passado triste, Mifune volta a ser abandonada. Regressa a casa, um regresso excruciante seguindo a linha do comboio, Tolstoi a bater à porta. Os dois homens descobrem na sua solidão que amam Mifune, “correm” à sua procura, tarde demais, Mifune escolheu ir ao “encontro do seu Johnny. O final é absolutamente triste. Sublime é o adjectivo que me ocorre, num filme cuja história provavelmente bebe nos filmes americanos dos cinquenta sobre a rebeldia juvenil (Ray), mas talvez também nos melodramas de Sirk e Stahl. E os planos-sequência são angustiantes, os travellings sentimo-los como chapadas; a irracionalidade que acompanha as personagens parece que encharca a realização de Kurahara. E é coisa rara vermos um filme que nos esmaga assim emocionalmente. E realizado por alguém que desconhecia. Como deve ser magnífica a História ainda “escondida” do Cinema. (em "oceuoinfernoeodesejo.blogspot.com")